Reflexões (Julie Tremblay) Fotografia: Thomas Petri |
Diariamente encaramos o nosso dia-a-dia com uma postura de sobrevivência. Optamos por fazer escolhas que camuflem o que realmente sentimos, optando por virar as costas à resolução dos nossos problemas. Há muitas formas de o fazer: distraindo-nos com uma agenda preenchida, festas, álcool, tabaco, drogas, etc. E quando isto já não resulta, ou porque o corpo não aguenta, ou porque a mente já não encontra mais desculpas, criam-se outras formas de fuga: doenças, depressões...
Gandhi dizia. A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.
Porquê alimentar o ego em vez de conhecer de uma vez a vida, questionando-a, compreendendo-a, e abrir portas às soluções que nos trarão equilíbrio, paz, harmonia? Porquê viver uma vida inconsciente sem nunca experimentar a verdadeira felicidade? Quantas gerações vão ser mais necessárias para que isso aconteça?
Fernando Pessoa disse: Fossemos nós quem deveríamos de ser e não haveria a necessidade da ilusão.
Temos sempre duas opções: questionar-nos, sermos sinceros e procurar realmente o nosso equilíbrio, ou aceitar o que temos. Mas aceitar implica não queixar-nos, porque não seria coerente nem sensato. Mas as queixas silenciosas continuariam, não é?
Buda dizia que os grandes tormentos do homem é o medo ou o desejo. Termos consciência deles é o primeiro passo para a libertação. A consciência não vive no medo nem no desejo. Vamos abrir o nosso coração e escutar a nossa consciência. Quando tivermos essa experiência não queremos outra coisa, porque na consciência não há espaço para coisas más. Viveremos apenas com amor, bondade, compaixão, equilíbrio, e assim as nossas escolhas serão sempre boas e bem direccionadas.
Somos seres belos, vamos libertar essa beleza e inspirar o mundo!
Milarepa
disse:
“Minha religião é não ter nada do que se arrepender quando morrer”. Mas
a maioria das pessoas não dá nenhuma importância a essa maneira de pensar.
Fingimos ser muito calmos e controlados, cheios de palavras doces, para que as
pessoas comuns — que não conhecem nossos pensamentos — digam: “Esse é um
verdadeiro bodisatva”. Mas é apenas nosso comportamento externo que elas vêem.
A
coisa importante a fazer é não realizar qualquer coisa que possamos nos
arrepender depois. Portanto, precisamos nos examinar honestamente.
Infelizmente,
nosso apego ao ego é tão grosseiro que, mesmo se tivermos sim alguma pequena
qualidade, pensamos que somos maravilhosos. Por outro lado, se temos algum
grande defeito, nem mesmo percebemos. Há um ditado que diz: “No pico do
orgulho, a água das boas qualidades não permanece”.
Então,
devemos ser muito meticulosos. Se, após examinar-nos completamente a nós mesmos,
pudermos colocar as mãos no coração e honestamente pensar: “Minhas acções estão
todas corretas”, então isso é um sinal de que estamos ganhando alguma
experiência no treinamento da mente.
Devemos
então ficar contentes que nossa prática tem ido bem e nos determinar a fazer
ainda melhor no futuro, assim como fizeram os bodisatvas de outros tempos. Com
todos os meios devemos gerar antídotos cada vez mais, agindo de modo a estar em
paz com nós mesmos.
(Dilgo Khyentse Rinpoche, Enlightened Courage, cap.
5)
Temas relacionados:
Sem comentários:
Enviar um comentário